Ôto mamá

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Ôto mamá

Filha, hoje você me pegou desprevenida.

Eu, muito inocente, achei que estava comandando o processo de desmame gradual, fazendo de forma respeitosa, sempre tendo o meu e o seu interesse em conta.

Fiz tudo como manda o livro: primeiro, quando completou 12 meses, organizamos as mamadas. Tinha hora certa e não era mais ao seu bel prazer. Foi fácil, algo quase natural. Você não reclamou muito e sempre entendeu que às vezes aquela não era a hora, mas que logo mais teria.

Eventualmente, começou a pular algumas mamadas. Devia ter me dado conta que você já estava também tomando suas primeiras decisões...

O desmame noturno não foi tão simples. Esse você lutou mais. Era um choro de frustração intenso e duro de ouvir a cada vez que seu pai ia te acalentar na noite, como quem dizia “você não é a mamãe! Cadê meu mamá?”

Mas aconteceu, e desde então todos na casa dormem bem melhor.

Já eram apenas três mamadas ao dia, quando um dia você começou a pular a da tarde, após o almoço. Ficaram duas.

A da manhã, mamãe resolveu tirar para que pudesse fazer sua primeira viagem um pouco mais tranquila. Deu certo... papai corria para te pegar quando acordava e fazer sua panquequinha da manhã.

Agora era apenas uma. A mamada da noite, para dormir. Mamãe sabia que era para acontecer a última vez até por volta dos seus 18 meses. Mas não tinha pressa...

Sabe, para mim o desmame também é uma perda...

Como já disse, amamentar é o céu e o inferno. É um nível de conexão que não tem igual. É muito lindo saber que você é suficiente para seu bebê no início da vida dele. Ao mesmo tempo te prende demais, a gente perde nossa autonomia. É muita doação.

Um conflito de emoções. Por isso sabia que aconteceria, mas não tinha pressa para que acontecesse.

A viagem foi um sucesso. Você dormiu sem precisar mamar!

Tinha o mundo perfeito: ofereceria o mamá normalmente todas as noites e você aceitaria. Mas quando eu não estivesse, você também poderia dormir tranquila sem mamar.

Ledo engano. Não cabia a mim decidir quando seria a última vez. Você, minha filha, no auge dos seus 17 meses, decidiu sozinha que não precisava mais mamar.

Um dia a noite, você pediu. Eu ofereci. Mas você rejeitou.

Fiquei sem entender.

E você me explicou: “Não. Ôto mamá”.

Você entendeu que mamar não é apenas nutrir. Mamar é aconchego, é saciar sede e fome, é ficar juntinho da mamãe. Naquele momento, você queria só colinho. E eu dei.

E senti meu coração partir: você já tinha mamado pela última vez, eu que não sabia.

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